O brincar como recurso terapêutico

Como as brincadeiras podem ser usadas como recurso terapêutico? São questionamentos, dúvidas que muitos pais às vezes não conseguem compreender como funciona este processo tão fantástico. As brincadeiras oferecem uma maneira de entrar no universo infantil, por isso, é preciso entender como funciona o ato de brincar e o que concretiza este mundo.

Através da diversão a criança acelera seu desenvolvimento. Em contato com a atividade proposta pelo terapeuta ela aprende a fazer, a conviver e, sobretudo, aprende a ser. Além de instigar curiosidade, a autoconfiança e a autonomia, proporcionando o desenvolvimento da linguagem, do pensamento, da concentração e da atenção.
É importante esclarecer que brinquedo(s), brincadeira(s) e jogo(s) são termos que podem ser confundirdos de acordo com o idioma utilizado. Em Português, brincar refere-se a uma atividade lúdica não estruturada. Segundo Vygotsky (1991), a brincadeira é uma situação imaginária criada pela criança e onde ela pode, no mundo da fantasia, satisfazer desejos até então impossíveis para a sua realidade.
A brincadeira é simbólica, livre, não estruturada e tem um fim em si mesma, pois trata-se do divertimento pelo prazer de brincar. Entretanto, todo tipo de brincadeira pode estar embutido de regras, pois a criança experimenta e assume as regras pré-estabelecidas e comportamentos baseados nas suas vivências. Dessa forma, o entretenimento favorece o desenvolvimento cognitivo, pois os processos de simbolização e representação levam ao pensamento abstrato.
O ato de brincar, além de proporcionar um melhor desenvolvimento, pode também incorporar valores morais e culturais, e assim, a criança será preparada para enfrentar o meio social. É através das brincadeiras espontâneas que o ocorre o desenvolvimento da inteligência e das emoções, e assim, as crianças desenvolvem a sua individualidade, sociabilidade e vontades. A distração, no sentido de divertimento é importante para incentivar não só imaginação e afeto nas crianças durante o seu desenvolvimento, mas também para auxiliar no desenvolvimento de aptidões cognitivas e sociais.
A participação nas brincadeiras em grupo também representa uma conquista cognitiva, emocional, moral e social para a criança e um estímulo para o desenvolvimento de seu raciocínio lógico. “A criança que brinca investiga e precisa ter uma experiência total que deve ser respeitada. Seu mundo é rico e está em contínua mudança, incluindo-se nele um intercâmbio permanente entre fantasia e realidade” (ABERASTURY, 1992. p. 55).
Através das brincadeiras em grupo, a criança aprende a conviver em comunidade, desenvolve sentimentos de afetos, e respeito. Segundo Melanie Klein (1997), ao brincar, a criança pode representar simbolicamente suas ansiedades e fantasias, além de expressar seus conflitos inconscientes procurando superar experiências desagradáveis.
Sendo a infância é uma fase de descobertas e aprendizados,. a criança desde que nasce está em constante aprendizado e a principal referência são os cuidadores, em especial a mãe, no qual para o bebê nos primeiros meses de vida tem a mesma como parte de si. Ao longo do seu desenvolvimento e ao passar por alguns estágios, o bebê percebe o mundo externo e aprendendo, por meio de outras fontes, a explorar objetos e outras pessoas que agora são referências. Ao passar por essas etapas seu psiquismo vai sendo formado, e a maneira como ele apreende o que lhe é marcado é estruturante para a formação da sua personalidade.
Brincar apresenta-se como um importante recurso para a criança compreender o mundo que a cerca e o que acontece com ela, possibilitando a elaboração de conflitos, frustrações e traumas.

Na fase de 0 à 1 ano, o objeto de maior atenção da criança, é o corpo. e Suas brincadeiras com ele são: , a descoberta de das partes sua temperatura, equilíbrio e segurança. Somente com o tempo é que a criança utiliza-se de regras em seus jogos, onde começa a denominar objetos e suas funções. Para as crianças nesta fase, os brinquedos servem de estímulos visuais abrangendo cores, movimentos e formas, gustativos (reconhecendo com a boca) , e táteis (percebe por meios de materiais e texturas).
Com estes estímulos ela aprimora sua coordenação motora ampla e fina, onde irá segurar, balançar, jogar. Com a exploração dos brinquedos, ela aprende sobre as qualidades dos objetos um em relação ao outro, sendo capaz de fazer escolhas e desenvolver habilidades intelectuais, emocionais e de comunicação.
A aprendizagem do mundo, para a criança torna-se possível através do que ela ouve, vê, toca e prova, dependendo de alguém que interaja com ela, fornecendo ajuda quando necessário. Através dos marcos do desenvolvimento normal da criança, iremos observar o quanto ela irá adquirindo movimentos e posturas que facilitaram a exploração dos objetos (brinquedos), que lhes são oferecidos. Para que isso ocorra é fundamental a colaboração dos pais.
A criança necessita apenas ser auxiliada para ter a oportunidade de descobrir e aprender, interagindo com o ambiente, buscando a propriedade e função dos objetos, manipulando e transformando-os.

Aos terapeutas cabe fornecer dicas aos pais para facilitar a brincadeira , ressaltando a importância de brincar e fazê-lo com a criança, e não por ela. É importante à realização de uma análise das propriedades e características do brinquedo, procurando adaptar a manipulação e exploração deste à capacidade individual da criança, por exemplo: um brinquedo pequeno que caiba na mão; um leve o suficiente para que se mova ao menor toque, etc. Além de apresentar essas propriedades, o brinquedo precisa oferecer desafios inicialmente fáceis de serem superado, instigando a criança à resolução dos problemas, superando gradativamente os obstáculos.
É essencial que o terapeuta tenha domínio sobre o desenvolvimento cognitivo e programe atividades que sejam pertinentes à fase na qual a criança está. Ressaltando que a importância do brincar para as crianças, pois através dele, ela atribui um novo significado as suas angústias. Na setting terapêutico, o brincar criativo é uma possibilidade da criança diante de sua realidade, onde ela pode se reorganizar e perceber possibilidades diante da realidade vivida por ela.
Neuropsicologia
Rejane da Silva Vasconcelos
CRP/15º-2479
Psicóloga e Psicopedagoga